[Resenha] Os Braceletes da Perdição - Brandon Sanderson

Steris e Marasi // Steris e Wax no trem // duas fanarts perfeitas da MeLaan | Fonte: internet


Alguns meses depois dos acontecimentos do último livro, Waxillium, Wayne e Marasi se veem em busca de uma relíquia lendária forjada pelo próprio Senhor Soberano, capaz de oferecer todo o poder que lhe pertencia. Para complicar, o infame Sr. Elegante, tio de Wax, já provou ter ambições inadequadas e também está atrás da relíquia. Conduzido com fluidez, tensão e agilidade, Os Braceletes da Perdição deixa uma impressão diferente do restante da Segunda Era, que começou como uma fantasia à la Velho Oeste e aos poucos apresentou uma evolução em seu estilo. 

Sanderson acertou no ritmo dessa vez e, apesar de ser o maior livro da segunda era até agora, foi o que li mais rápido. O andamento é ótimo, com a dose certa de cenas de ação, tiroteios, perseguições e lutas alomânticas, dando um tom frenético à trama. Os personagens são bem desenvolvidos e interagem de forma natural e cômica; eles formam uma equipe única e espirituosa, para dizer o mínimo, mas inegavelmente eficiente.

Wax continua com seu forte senso de justiça e, diante de conflitos cada vez mais amplos, precisa encarar seu passado e se perdoar por escolhas que teve que tomar. Enquanto se recupera dos acontecimentos do episódio anterior, a relação de Wax com a religião muda bastante, e foi legal ver essa evolução. Já Wayne continua sendo Wayne, o que é uma coisa ótima. A maneira como ele age e vê o mundo beira o ridículo, chega a ser meio assustador como a gente é capaz de não só gostar, mas entender o personagem. Os espaços onde sua personalidade excêntrica é explorada ficaram ainda mais criativos, me diverti vendo suas soluções inventivas. Senti falta, porém, de ver mais do seu passado e motivações, espero muito que isso seja mais desenvolvido no futuro.

Indo para o restante da equipe, a participação feminina foi forte nesse livro. Marasi sempre se enxergou como alguém “apagada”, à sombra dos outros, e via seu futuro e ambições mudarem sem saber como se posicionar diante de tudo. Essa incerteza aos poucos se transforma em convicção e, conforme eles viajam, Marasi parece começar a entender quem ela é e o que deseja. O ressentimento que sentia por Wax no livro anterior desaparece aos poucos, assim como a visão que tinha dele como um herói inquebrável. O arco de evolução dela foi lindíssimo, amei ver Marasi ganhar cada vez mais confiança. MeLaan, toda cativante e animada, continua brilhando e rende boas risadas com seu jeito extrovertido e peculiar.

Por fim, temos a tediosa e sistemática noiva de Wax, que finalmente ganha mais espaço e aos poucos desconstrói todo o julgamento em torno dela. Steris não sofre uma mudança súbita ou forçada, ela só começa a permitir que vejamos sua verdadeira personalidade e se mostra uma personagem fascinante e MUITO promissora. Apesar de se ver como a sétima roda do grupo, Steris sempre se esforça para superar suas limitações, demonstrando coragem, força e inteligência. Suas "precauções" exageradas, mesmo que estranahmente eficientes, também funcionam muito bem como quebra de tensão, e confesso que fiquei muito ansiosa para ver como ela será desenvolvida no próximo livro.

A carruagem se colocou em movimento e Steris se inclinouo para fora da janela, dando adeus à pobre hoteleira.
- Incriminados por um assassinato! - disse Steris a ela. - Está na página dezessete da lista que lhe dei! Tente não deixar que eles assediem muito os nossos empregados quando chegarem!

Os relacionamentos entre os personagens são incríveis e, como disse antes, foram construídos de forma natural e bem humorada. Pra começar, a química entre Wayne e Wax é maravilhosa! Eu amo o jeito como eles trabalham juntos, confiam um no outro e se entendem 🤧. A evolução da relação entre Wax e Marasi foi incrível de assistir e, mesmo que eu esperasse um pouco mais, ver ela se descobrindo como personagem e deixando suas inseguranças para trás já compensa tudo. Steris e Wayne, apesar de não terem um relacionamento tãoo amigável quanto os demais, funcionam a base de farpas e sarcasmo e isso é sempre uma boa aposta. Marasi e MeeLan, por sua vez, são totalmente opostas e construíram uma dinâmica maravilhosa, adorei a amizade delas. 

Falando de romance, Wax e Steris são o casal mais excêntrico do livro (sim, superam Wayne e MeLaan kkkk) e ganharam todo o meu amor com isso. A trajetória deles foi conturbada, para dizer o mínimo, tendo começado com um acordo econômico e passando até mesmo por um possível triângulo amoroso com a irmã bastarda da noiva. Mas, no fim, o que importa é que eles aprenderam a trabalhar em união e confiar. Cada defesa derrubada fez com que se aproximassem ainda mais e, conforme conheciam um ao outro, me apeguei a essa dupla inusual e amável. 

Adoro a ideia de que posso me livrar de tudo, das expectativas, do modo como sou vista, do modo como me vejo, e decolar. Vi isso nos olhos dele primeiro. Aquela fome, aquele fogo. E então descobri isso em mim. Ele é uma chama, Waxillium, e o fogo pode ser partilhado. Quando estou aqui, quando estou com ele, eu ardo, Marasi. É maravilhoso.

Acho que deu pra perceber que eu virei bem cadelinha da Steris, né? KKKKK

O legado da Primeira Era foi forte, as aventuras de Vin & Companhia são uma influência tão direta para os acontecimentos que fiquei meio nostálgica. Para mim, o mais legal é que Sanderson consegue subverter conceitos que nós, leitores, já pensávamos dominar, criando situações capazes de mudar toda a mitologia da série. Ele trabalha o conceito de “sempre há outro segredo” com maestria, não há como negar. Também tiveram algumas referências e ligações com o Cosmere, universo que engloba todas as obras do autor, o que eu achei bem legal. Mas o epílogo. Aquele maldito epílogo. Aquilo foi o auge. A última página tirou meu chão, me deixou sem ar, sem reação e sem palavras. Isso muda tudo, eu preciso de respostas. Em nome de Harmonia, quando The Lost Metal vai ser lançado????

P.S.: Um amigo disse que dá pra acompanhar no site oficial do autor, lá tem barrinhas de progresso para todos os livros que ele está escrevendo ("Wax & Wayne Book 4")

Bom, depois de uns 7 parágrafos exaltando a perfeição dessa obra de arte, chegou a hora de falar dos defeitos. Da metade para frente, muitas informações são jogadas no enredo, mas poucas são realmente desenvolvidas ou tem uma ligação forte com o que foi apresentado antes. Não é que nem o brinco da Vin, por exemplo, que foi um plot-twist genial, surpreendente e ainda sim com indícios e pistas ao longo de toda a trama. Há também um excesso de voz passiva, os personagens sofrem as ações e não participam delas, o que foi meio doloroso de se ler. Acho que o recurso “deus ex-machina” usado no final foi o que mais me irritou, já que solucionou o problema de forma aparentemente milagrosa, mas as custas da lógica. Na minha opinião, Brandon Sanderson quis equilibrar muitas coisas ao mesmo tempo e acabou dando um passo maior que a perna, perdendo um pouco da qualidade padrão.

Resumidamente, Braceletes da Perdição tem um enredo incrível e personagens melhores ainda. O relacionamento dos personagens foi tão bem construído que eu fiquei boba, a amizade entre eles é perfeita e eu jamais vou superar aquele epílogo. Sem dúvidas, esse é um livro que tinha muito potencial para ser o melhor da Segunda Era, mas algumas gafes o impediram de destronar Sombras de Si Mesmo.


Às vezes, a única forma de vencer é se recusar a lutar.


Postar um comentário

0 Comentários