Oii estrelinhas, tudo bem? Hoje eu vim falar do livro que provavelmente é o meu favorito no momento: Quando a Luz Apaga. Gustavo Ávila, autor nacional, provou seu talento ao criar uma história que te prende nos mínimos detalhes e com um dos plot twists mais genais que eu já vi. Vamos lá?
Parece que no fundo todos querem ajudar o mundo, mas por algum motivo ninguém faz nada.
Moradores de rua começaram a desaparecer misteriosamente, sem deixar rastros ou pistas. Ninguém faz nada e a polícia pouco se importa. Afinal, quem sentiria falta de pessoas “invisíveis”, que vivem às margens da sociedade? Para nossa sorte, Arthur Veiga é um detetive que odeia ficar parado e decide investigar o caso por conta própria durante suas férias (obrigatórias e tiradas contra sua vontade). Ao mesmo tempo, temos um homem que possui diferentes identidades, nomes e rostos. Para completar sua obra prima só falta um detalhe: ele precisa daqueles que ninguém sentirá falta.
Se de um lado temos uma investigação envolta em mistério, de outro somos inseridos no mundo de máscaras e maquiagens do teatro. Matias Dália, renomado dramaturgo, tem uma maneira singular de enxergar a arte, o mundo e as pessoas. Suas peças são complexas e profundas, levantam questionamentos que continuam rondando minha mente até agora. Com certeza esse ar teatral e mordaz foi uma das minhas partes favoritas do livro. O autor soube trabalhar muito bem com os aspectos emocionais de seus personagens, que aos poucos vão ganhando relevância no enredo. Cada um trava suas próprias guerras internas enquanto tenta se entender com o mundo ao redor, nunca se sabe o que acontecerá na próxima página.
A arte não retrata a vida, muito menos a maquia. Ela a revela. A arte nos mostra o que olhamos, mas não vemos.
Gostei muito da complexidade psicológica dos personagens, em
especial de dois deles. Arthur Veiga é um detetive sem
papas na língua que se enquadra em algum nível do espectro autista. Metódico,
ele tem a necessidade de manter uma rotina fixa e usa do trabalho para
controlar a ansiedade. Matias Dália, por sua vez, possui uma característica
particular. Não falarei qual para não estragar parte da trama, só digo não
tinha ouvido falar antes desse livro e encontrei um novo ponto de vista através
dele.
O suspense também é mantido durante quase toda a leitura. Quem é o assassino? O que ele quer? Quais são suas motivações? Todas as histórias, que a princípio parecem não ter conexão, se intercalam conforme os acontecimentos fluem. É quase como uma pintura impressionista: se olhada de perto, tudo não passa de borrões confusos. Só é possível ver a genialidade e complexidade do quadro à medida em que se afasta. A princípio, achei o ritmo um pouco lento, era muita informação para processar em poucas páginas. Parecia que tinha lido por horas, mas quando ia ver mal passava de 10 ou 20 páginas a mais kkkk. A cada linha, porém, a trama se torna mais e mais viciante, os capítulos longos passam a voar e antes que você perceba já está no final do livro. Garanto que os amantes de um bom thriller terão um prato cheio com esse livro!
Talvez porque o mal não possa ser disfarçado completamente. Ele sempre está lá, gritando no fundo do poço, tentando escalar as paredes do vazio. Arranhando. Arranhando. E arranhando.
Mas além de todo o suspense, essa é uma leitura que nos
coloca para pensar. Nada é por acaso e, por sinal, uma das principais mensagens
do livro foi trazida à tona por ninguém menos que o serial killer. Você será
jogado de cabeça na mais interna necessidade humana: a vontade de ser notado
pelo que realmente é, não por um estereótipo. É sobre compreensão, entender que
cada um é de um jeito e ninguém age ou sente igual a nós. Em uma camada mais
subjetiva, somos convidados a refletir sobre o quanto a verdade coletiva
influencia a verdade pessoal. Existe uma maneira de fugir dessa persuasão ou
estamos todos condenados a ela?
Já a um nível social temos principalmente os moradores de rua e sua (in)visibilidade perante a sociedade. Cada capítulo narrado por eles nos mostra mais profundamente os sofrimentos e desafios das pessoas que moram na rua, o que as levaram até lá, os perigos que enfrentam e a insignificância que representam para a sociedade. As críticas sociais são atuais e nos fazem rever o modo como pensamos e agimos, deixando uma sensação que se assemelha muito a um soco no estômago.
Intenso, impactante e eletrizante, Quando a Luz Apaga é um livro feito com estilhaços de um espelho. Eles se quebram e nos cortam e incomodam e por fim se remontam para refletir o que preferimos não ver. O que escondemos atrás de máscaras forjadas com falsa moralidade? Quem nós somos de verdade, quando as cortinas se fecham e a luz apaga?
Se as pessoas não são sinceras umas com as outras, qual a diferença entre fingir sentir algo e não dizer o que sente?
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